Mercúrio retrógrado, introspeção e uma vaca
E porque estamos em fase de mercúrio retrogrado – um período propício à introspeção e à reavaliação dos diversos aspetos da nossa vida - partilho uma história boa para espicaçar a reflexão. Espero que gostem!
A História da Vaca
Um mestre e o seu discípulo caminhavam em direção a um mosteiro. Como a noite se aproximava, o mestre sugeriu ao discípulo que ficassem atentos à primeira casa que avistassem. Pouco depois, o discípulo apercebeu-se de uma luz no alto do vale que atravessavam.
- Vamos pedir hospitalidade – disse o mestre.
Já perto, repararam que se tratava de uma casa muito antiga. Bateram à porta e foram recebidos por um camponês.
- O que desejam?
- Procuramos alojamento para esta noite. Vamos a caminho do mosteiro - disse o mestre.
- Então sejam bem-vindos à nossa humilde casa. Embora não tenhamos camas, poderão descansar junto do lume – disse o camponês.
Uma vez dentro da casa, o mestre e o discípulo observaram a simplicidade com que viviam o camponês, a mulher e dois filhos. Tinham pouco mobiliário, as suas roupas eram farrapos e a despensa estava vazia. Apesar disso eram uma família alegre e unida.
- Digam-me uma coisa: como ganham a vida? – perguntou o mestre.
- Há alguns anos, com o dinheiro que tínhamos, comprámos uma vaca. É graças a ela que subsistimos. Dá-nos tudo o que nos falta, como este magnifico queijo. Com o leite e os seus derivados podemos alimentar-nos e ir levando a nossa vida.
Depois de um bocado à conversa, foram todos deitar-se.
Na manhã seguinte, após o pequeno-almoço, os convidados abandonaram a casa e seguiram o seu caminho. Quando já tinham percorrido um grande bocado, o mestre diz ao discípulo.
- Volta à casa e, quando escurecer, empurra a vaca pelo precipício que fica ali perto.
O discípulo ficou atónito. Não queria acreditar no que estava a ouvir da boca do mestre!
- Mestre, isso será a ruína desta família.
- Faz o que te digo e não percas tempo.
- Mas, mestre. Eu não sei se devo…
- Não discutas comigo – disse o mestre – Vai, atira a vaca e depois vem ao meu encontro.
O discípulo cumpriu rigorosamente o que seu mestre lhe pediu. Voltou para junto do seu mestre e seguiram para o mosteiro.
Anos mais tarde e após terminar os seus estudos, chegara a hora de abandonar o mosteiro, a primeira coisa de que se lembrou foi daquela família que os acolhera. Decidiu ir ver com os seus olhos as consequências da sua acção. À medida que se acercava da casa começou a aperceber-se de que as coisas tinham mudado. Para sua surpresa, deparou-se com uma casa praticamente nova, rodeada de um bonito jardim e de uma pequena horta. O discípulo que agora já era mestre, imaginou que pertenceria a outras pessoas.
Bateu à porta e esperou que a abrissem.
- Desculpe – disse o antigo discípulo – o senhor é a pessoa que vivia aqui há uns anos quando por cá passaram um mestre e um discípulo?
- Claro, estou agora a lembrar-me, sim… Como é que o senhor sabe?
- Eu era o discípulo e agora que estou de regresso à minha cidade e quis cumprimentar-vos.
- Fez muito bem: as pessoas devem ser gratas.
- Esta casa mudou muito desde então. O que vos aconteceu para agora viverem tão bem?
- Não sei se o senhor se lembra de que tínhamos uma vaca que nos proporcionava o alimento básico. Certa noite, algo inesperado aconteceu: a vaca fugiu e caiu pelo precipício. Ficámos sem ela e sem o nosso sustento. Depois do susto inicial, não desanimámos e resolvemos todos juntos seguir em frente, lembrámo-nos de fazer cestos e de os vender no mercado. Tivemos muito sucesso e desde então nunca mais parámos! Além disso, diversificamos o negócio e plantámos também flores e legumes. O desaparecimento da vaca foi a nossa sorte! Caso contrário, ainda estaríamos a viver só do leite. Aprendemos uma boa lição!
Depois de ouvir o relato, o novo mestre saiu dali mais aliviado. Sentiu uma imensa paz interior e, uma vez mais reconheceu a sabedoria daquele que em tempos havia sido o seu mestre. Esta história serviu-lhe para pensar nas pessoas e nos seus medos e inseguranças. Raciocinou da seguinte forma: “Todos temos uma vaca que nos proporciona alguma coisa básica para a nossa sobrevivência ou, pelo menos, acreditamos que sem ela não poderíamos viver da mesma maneira. Apegamo-nos e não estamos dispostos a larga-la por nada deste mundo”.
A partir desse dia, o jovem mestre contou uma e outra vez a história para que toda a gente pudesse descobrir dentro de si aquilo que é, afinal, a sua vaca particular. Para que conseguissem empurra-la pelo precipício e viver uma vida mais plena e criativa.
Após a leitura desta história, consegues identificar a “tua vaca”?
Aproveita as energias mais favoráveis despertas por Mercúrio retrógrado para reavaliares quais as “vacas” que já não agregam nada à tua vida e que a limitam. Este é um momento maravilhoso para dedicares a ti. Acolhe, escuta e entende as tuas emoções. Sê gentil e compreensivo/a contigo, para que assim possas restabelecer a conexão à tua essência.
Se tiveres dificuldade em restabeleceres a conexão ao teu maravilhoso ser, convido-te a agendares uma consulta comigo.